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Covid-19: Brasil registra mais mortes do que nascimentos

por: Eduardo Pinheiro 


Foto: Michael Dantas / AFP

Pela primeira vez na história, morreram mais brasileiros do que nasceram nos oito primeiros dias de abril. O fato inédito ocorre após o Brasil registrar mais de 4 mil mortes diárias pelo segundo dia e com a pandemia da Covid-19 fora de controle. Diante dessa trágica realidade, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) teme protestos e afirma que há movimentos não para derrotar o vírus, e sim para derrubá-lo do cargo.

Nesta quarta-feira (7) durante a cerimônia de posse do novo diretor brasileiro de Itaipu, Bolsonaro afirmou que a crise sanitária tem sido usada politicamente para prejudicá-lo.

"Estamos passando por uma pandemia que em parte é usada politicamente. Não para derrotar o vírus, mas para derrubar o presidente. Todos nós somos responsáveis pelo que acontece no Brasil. Qual país do mundo não morre gente? Infelizmente, morre em qualquer lugar. Queremos é minimizar esse problema.?
Jair Bolsonaro

Nesta quinta-feira (8) foram registrados em 24 horas 4.249 óbitos por Covid-19. Hoje, o Brasil concentra um terço das mortes diárias pelo coronavírus no mundo, mesmo com 3% da população mundial. Além disso, morreu mais gente em março no país do que na pandemia inteira em 109 países, que soma 1,6 bilhão de habitantes.

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Os países que adotaram medidas de isolamento social e providenciaram vacinas ainda em 2020 demonstram que esse cenário poderia ser diferente se não estivéssemos sob o comando de um presidente insensível e narcisista. Em destaque, temos os Estados Unidos, antes comandado pelo aliado de Bolsonaro, outro narcisista conspiratório, Donald Trump, e agora, com o democrata Joe Biden no poder, têm conseguido imunizar mais de 3 milhões de pessoas por dia.

Desabastecimento da vacina

Já o Brasil, que enfrenta o pior momento da pandemia, ainda corre o risco de desabastecimento da vacina. Tentando minimizar o prejuízo que causou, Bolsonaro resolveu ligar até para Vladimir Putin, presidente da Rússia, para pedir ajuda. A Sputnik V, no entanto, ainda não tem autorização para uso emergencial no Brasil e o presidente vetou a norma que obrigava Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a dar aval em cinco dias para vacinas contra a Covid-19.

Além disso, outro imunizante que foi fortemente criticado pelo presidente por sua "origem comunista?, mas que agora represente 80% das aplicações no Brasil, também está empacado. Nesta quarta, o Instituto Butantan suspendeu o envase de doses da vacina CoronaVac, produzida em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac, após o atraso no envio insumo farmacêutico ativo (IFA).

Como já indicavam especialistas, neste momento todos os países se concentram na vacinação em massa em seus próprios territórios. Menos o Brasil, que investiu em remédios sem comprovação científica e atrasou a negociação de imunizantes e se vê refém da boa vontade alheia para não parar a vacinação no país.

Cidades já somam mais mortes que nascimentos

No último mês de março, o mais mortal da crise sanitária até agora, morreu mais gente do que nasceu em pelo menos 12 das 50 cidades com mais de 500 mil habitantes do país? entre elas, Rio de Janeiro (RJ), Natal (RN) e São Bernardo do Campo (SP). 

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Nas últimas décadas, a diferença entre nascimentos e óbitos já vinha caindo gradualmente no Brasil. O excesso de mortes durante a pandemia de Covid-19 está acelerando o encontro destas duas curvas, algo que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) projetava que deveria acontecer apenas daqui a mais de duas décadas, em 2047.

Segundo o neurocientista Miguel Nicolelis em entrevista à CNN Brasil, março pode ter sido o primeiro mês da história em que o Brasil registra mais mortes do nascimentos.

"Antes, havia por volta de 200 mil a 230 mil nascimentos por mês no Brasil, e por volta de 90 mil a 100 mil óbitos. A gente seguiu esses dados ao longo do ano passado e o que vimos é que a diferença entre os óbitos e os nascimentos está ficando cada vez menor.?
Miguel Nicolelis

De acordo com Nicolelis, em fevereiro, houve uma queda brusca de registros de nascimento: 125 mil contra 121 mil óbitos. "Essa diferença, que era de 100 mil em favor de mais nascimentos do que óbitos por mês, caiu para menos de 4 mil. Sugerindo que em março, onde tivemos aproximadamente 160 mil óbitos no Brasil, numa estimativa preliminar, se o número de nascimentos ficar por volta dos 125 mil, teremos pela primeira vez na história do Brasil mais mortes do que nascimentos no país?, detalhou.

Mesmo diante do caos social em decorrência da falta de coordenação para o combate à pandemia da Covid-19, o procurador-geral da República, Augusto Aras, e o advogado-geral da União, André Mendonça, foram ao Supremo Tribunal Federal (STF) para defender a abertura de templos religiosos no pior momento da crise sanitária.

Socialistas lamentam mortes

Pelas redes sociais, parlamentares socialistas lamentaram as mais de 4 mil mortes e reforçaram o pedido de impeachment contra Bolsonaro. Líder da Oposição na Câmara, o deputado Alessandro Molon (PSB-RJ) afirmou: o Brasil não aguenta mais.

A deputada federal Lídice da Mata (PSB-BA) também lamentou as mortes e afirmou que não podemos normalizar esse cenário, além disso a parlamentar destacou a urgência pela vacina.

O deputado Gervásio Maia (PSB-PB) destacou o dia trágico no Brasil afirmando que morreu um brasileiro a cada 20 segundos enquanto Bolsonaro fazia banquete.



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